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terça-feira, 28 de junho de 2016



 * por Vitor Chucre, estudante de filosofia


A vida pode ser linda, feia ou sem sentido, e toda situação pode trazer a tona nossas piores partes, e percebemos  que quando o ser humano cria fantasias de uma vida melhor, é apenas por que precisa desesperadamente compreender e aceitar sua existência tal qual é no planeta e essa é uma forma de lidar com as piores coisas que a vida nos apresenta. Temos uma necessidade constante de entender como o universo funciona, seus processos e leis, pois o que nos perguntamos o tempo todo é: Como e por que estamos aqui?  Qual valor eu tenho? Será que existe escolha? Minha vida está tal qual deveria? Existe alguma coisa que eu realmente tenho controle? Minha existência é justificável ou até que ponto meu lugar é tolerável, aceitável ou concebível? Pensar em tudo isso é um movimento na luta pelo nosso direito a identidade e subjetividade,  que temos que garantir a todo momento num exercício de justificar nossa presença no espaço ou nosso acesso aos recursos.

Essa agonia por saber de onde viemos e para onde vamos, é consequência da nossa eterna prisão: A consciência. Note-se  que essa é a prisão perfeita pois ela não está fora, e não limita nossas ações de forma externa. Carregamos a consciência conosco e em qualquer lugar precisamos pensar uma maneira de satisfazê-la respondendo por que e como estamos aqui e até que ponto temos controle do que pensar, viver, sentir, cair, doer, ou ser bem sucedido, alcançar objetivos ou viver numa eterna dança entre azar e sorte. Tudo isso por que simplesmente sabemos que existimos. O ser humano é uma das poucas espécies que tem noção de sua existência e, portanto da existência dos seus pares, o que nos dá a capacidade pensar universos, pois se eu tenho um mundo só meu e inúmeras formas de interpretar silêncios e sons, luzes e sombras e ações ou repousos, imagino que meus pares também tem. Essa relação complexa entre todos esses possíveis universos particulares cria uma realidade social em que o tempo todo eu preciso lutar pela minha existência, em um primeiro momento ao reconhecê-la, aceita-la  e defendê-la pra mim mesmo pra num segundo momento trabalha  para que o mundo também o faça.

Dentro do processo de pensar tudo isso recebi o convite de assistir ao espetáculo “O Pior de Mim” de Monica Siedler, achei o espetáculo genial, por que apesar de estar até um pouco indisposto no inicio da apresentação essa indisposição passou quando os movimentos de dança começaram. A proposta de usar uma vivencia corporal de reconhecimento da existência do corpo com o aqui-agora, o controle do corpo numa percepção da existência, suas ações e reações respondendo ao efêmero e irreproduzível mas mantendo uma pré concepção de si remeteu a todo esse processo interno de aceitação da dor e do descontrole, da falta de capacidade de parar o tempo e os fatores externos, onde o corpo precisa reagir a tudo e se preparar para qualquer movimento ou risco que pode ser necessário a garantia da sobrevivência.

Suas expressões faciais remetiam a essa tentativa de controle, um modelo de percepção do sujeito social expressando essa percepção, como se as expressões duras e até agressivas em um rosto delicado, com traços angelicais que remetem a uma boneca de porcelana, uma coisa frágil mas que naquele momento precisa projetar uma força que garanta o respeito ao corpo, pois o rosto, numa perspectiva social, garante nossa identidade, como uma impressão digital da alma. Nesse espetáculo é possível perceber que o rosto dança as vezes até mais que o corpo, e a performer deixa isso muito claro no momento que esconde o rosto pra dar força a expressão corporal ,num movimento, tanto de retirar a delicadeza dos traços da bailarina como de mostrar a força que um corpo sem rosto tem ou não.

Esse balé tem claramente influencias da rua e obviamente se inspira na força projetada pelos seres frágeis que perderam sua capacidade de imprimir seus rostos na memória social. As moradoras de rua vivem esse eterno conflito de, sendo extremamente frágeis e vulneráveis, estarem o tempo todo projetando uma força surpreendente e às vezes até assustadora. no inicio da performance, a bailarina pode ser confundida com uma “mendiga” louca carregando seu saco de materiais recolhidos na rua.  No auge da apresentação se percebe que esse trabalho vai além das expectativas e uma breve conversa com Monica nos mostra que até pra ela.

Por ser uma concepção baseada no efêmero, é perceptível que a contemporaneidade e o mundo líquido de Bauman se traduzem em dança num espetáculo que consegue realmente fazer o espectador refletir sobre o pior de si, pois este vive no presente. Temos uma tendência de colocar o nosso melhor em um passado nostálgico ou projetá-lo em um futuro glorioso e as expressões de agonia, dor e sofrimento da dançarina nos trazem pro agora, pois é onde essas sensações ficam. Monica Siedler,  em sua performance consegue nos trazer o sentimento e a reflexão do incomodo, nos fazendo lembrar do papel crítico e até terapêutico da arte, que abraça o fracasso e assim alcança o sucesso.

sexta-feira, 6 de maio de 2016



Desenhos de Narjara Reis, publicados junto ao texto de Josimar Ferreira na revista de arte contemporânea Interartive!

http://interartive.org/2016/05/monica-siedler-pior-de-mim/













terça-feira, 26 de abril de 2016

Texto de Elke Siedler - publicado no clicrbs - sobre a estreia no MIS da performance O Pior de Mim:


O Pior de Mim é uma dança que transita por distintas mídias, em ambiências off-line e online. A idealizadora e executora do projeto, a performer Monica Siedler, desestabiliza as noções engessadas de fruição em artes do corpo ao propor uma experiência dilatada. Isto é, ela provoca o público ao se apresentar em diversas situações, e em distintas temporalidades, de modo que evoca interrogações sobre os limites  das relações entre corpo e obra de arte. 

Desde o início, Monica convidou artistas e público em geral para instaurar um campo de vivências e experiências voltadas às questões trabalhadas no projeto. Neste contexto, a dança foi materializada em vídeo-performances (postados no YouTube), fruto de sua parceria com Barbara Biscaro; há uma série de traduções criativas dos ensaios abertos, assinadas por espectadores e/ou especialistas nas áreas das artes e compartilhadas no blog do projeto; foram desenvolvidas performances urbanas em conjunto com os integrantes do workshop intensivo, proposto por Monica. 

No dia 20 de abril, o público lotou o Museu de Imagem e do Som (MIS), localizado nas dependências do Centro Integrado de Cultura (CIC), para ter uma experiência diferenciada. O Pior de Mim cresceu e foi materializado numa performance marginal compartilhada com o Dj Ledgroove, Vj Bruno Bez e o cenógrafo Roberto Gorgati.  Eu não posso descrever em detalhes esse solo de dança, pois não quero descaracterizá-lo, já que o devir é sua condição de existência. Cada apresentação é a enunciação da resultante provisória de encontros temporários com uma gama de artistas. Mas o denominador comum de todas as performances é a força, é a entropia, é a instabilidade instaurada no corpo e no ambiente.  
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Monica Siedler tem uma corporalidade de guerra. Seus gestos são agressivos, feito as errantes quando lutam pela sobrevivência nas ruas. Suas costas nuas denunciam que ela sobreviveu a um tiro nas costas. Suas vestes a protegem dos tempos difíceis. O vídeo-self feito em tempo real dá visibilidade aos contornos borrados de seu rosto que já chorou, e muito. A sombra do corpo é grande e contamina ao mesmo tempo em que é contaminada pelas imagens coloridas produzidas ao vivo e projetadas num telão em concordância com a música ácida, que provoca dor no corpo de quem a escuta. 

O Pior de Mim é sobre um corpo coletivo em ruínas, que está defronte aos fracassos de suas ações passadas...é um corpo em crise e arruinado pelos hábitos que um dia fizeram sentido. Não há respostas sobre os rumos a seguir, mas há pistas de que o melhor pode emergir do seu pior. As próximas apresentações serão no dia 25 de abril, às 20h, no Ceart, 29 e 30 de abril, às 20h, no Teatro da Armação e 12 de maio, às 22h15min, no bloco de Artes Cênicas UFSC. 

* Elke Siedler é bailarina independente e doutoranda em comunicação e semiótica

sábado, 23 de abril de 2016





Vem                                * por Mariana Coral





O pior de mim é um acionamento, algo que é disparado por outrem.. Fruto de uma simbiose que tornou-se vazia, um lugar de sombra e do côncavo. 



Pela estrada nos damos em fluxo “o melhor e o pior de mim”. Uma dança de comportamentos viciados. Esse vício não se constroí sozinho e sim, principalmente por aqueles que mascaram o pior de si. 



Hoje quero te ver dançar. Quero te mostrar os abismos que possuo. Gostaria de te dizer o quanto estais louca e quanto o teu pior de si, foi construido com o pior de mim. 



Coroada pelo crepúsculo, espero o clarão do dia. Quero dançar e estar nua.. Sei que não suportarás o dia e entrarás de novo em tua caverna. Te vejo, já, se relacionando com as sombras. Vem, vamos sair daqui lamber o asfato, se alimentar de Terra... até que teu ser frágil e enigmático.. possa de novo caminhar. 



domingo, 17 de abril de 2016




O PIOR DE MIM - andré felipe para monica siedler


Tem quem pense que eu tem quem pense que eu tem quem pense Todas nós aqui estamos tentando ser um pouco mais um pouco mais um quem pense que eu Ele nos disse mil vezes pra não voltar mas se ele tá quente nós já tá fervendo hoje é sábado a nossa vida é um sábado e se ele tá quente nós já tá trazendo mil litros desse líquido que nos enche por dentro porque nós tá com sede nós tá fervendo e nós disse mil vezes que esse líquido que nos enche por dentro esse líquido que nos acalma e nos faz mexer por dentro porque mesmo que ele diga mil vezes pra não voltar e ele disse mesmo que ele diga mil vezes e ele disse nós volta e mesmo que ele diga e ele ameaça assim mesmo a gente volta todas nós aqui e ele vê inclusive tem quem pense que eu tem quem pense que nós tem quem diga que a nossa vida é um sábado de madrugada Todas nós aqui estamos tentando ser um pouco mais um pouco menos aquilo que ele pensa que nós aquilo que eu mesma e todas nós pensa que nós deve ser assim mesmo nós volta nós tenta fugir bate a cara contra a parede de salpico e ele ameaça e mesmo assim nós volta e ele nos disse mil vezes pra não voltar mas se ele tá quente nós já tá fervendo mil litros desse líquido que nos acalma e nos faz mexer por dentro queima e se ele pensa que nós acaba nós continua voltando nós continua mexendo e tudo isso aqui é nossa homenagem pra ele - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ------------------------------------------------------------------------- - - Faz tempo que eu to querendo mostrar isso aqui mas eu não sabia como Faz tempo que eu tenho arrastado essa carga pesada dentro de mim mas não encontrava nenhuma outra sala que coubesse Faz tempo que essas coisas rondam o meu pensamento mas ninguém entenderia Faz tempo que todo mundo me olha mas não me entende Faz só duas horas que algumas coisas se clarearam mas não houve tempo Faz tempo eu estou tentando me abrir mas meu avesso também me esconde - - - - - - - - - - entra desvia toca desiste volta mas ninguém me ouve entrega eleva desvia bate desvia desliza esconde entrega recua contem solta expira abaixa desvia para encontra sobe desliza gira tenciona expira inspira torce agarra tenta treme aspira constrói recua solta balança entrega contem - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ------------------------------------------------------------------------- -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Um terreno baldio em um bairro antigo agora cercado de prédios a destruição ainda fresca de uma casa construída nos anos setenta por uma família que não valeria descrever aqui mas de gente que algum dia se importou com esse terreno de uma forma menos materialista e mais afetiva o recorte do telhado marcado no muro lateral os azulejos do antigo banheiro colados nos fundos o alicerce de ladrilho laranja afundado no mato crescido misturado aos entulhos despejados por operários da obra no outro lado da rua uma construção cada dia mais vertiginosa por sua altura uma velha cadeira de praia listrada dos tempos em que ainda era possível entrar no mar nesse lado o pé de carambola inabalável os mosquitos proliferando na água acumulada nas latas de tinta enferrujadas tudo é destruição e tudo é possibilidade - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - expira inspira expira inspira 1 2 3 expira inspira 1 2 3 expira inspira 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18192021vinteedois232425eninguémmeescuta2627282930 40 50 60 70 80 90 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - e nós continua voltando 1 2 3

quarta-feira, 13 de abril de 2016



- Espera I-


Entre Doroti’s e Penélope’s um passo a espreita, uma deseja acordar e retornar para a casa, o aconchego do lar, aquele espaço onde os pesadelos e aventuras estão protegidos pelo cheiro de café ao amanhecer, a cadeira no fundo da cozinha que a espera. A outra só quer que o seu amado retorne para a casa, o amor aventureiro, o homem que irá redimi-la do tamanho da espera, ela tece e refaz a paisagem da tapeçaria, organiza a casa, prepara o lar, dispensa os pretendentes e se coloca em tempo de “esperança”, seria a esperança uma espera? A passividade de Penélope ou o idealismo de Doroti? As mulheres que esperam seus amores retornarem da guerra, Godard certa vez colocou que só os homens fazem guerra, só um homem é capaz de subir em uma moto com uma mochila e atirar em seu vizinho. As mulheres seriam seres cordiais? Doroti deseja retornar para a casa, afinal, as aventuras não foram feitas para seres que “esperam”, ela é uma menina, ela está sonhando, meninas não são aventureiras, tudo não passará de um sonho e ela acordará em sua cama – protegida – de qualquer ameaça ou invasão. Já Penélope, uma mulher, a representante da figura do amor do herói, Ulisses retornará um dia à Ítaca não importa quanto tempo levará, Penélope jurou amor a quem precisou sacrificar sua vida em prol da Cidade, em viver grandes aventuras. E ela tece o que imagina dessas aventuras – um amor narcísico - encontra no outro o que “acha” que não está em si. Será o desejo de Penélope a espera? Será Ulisses o seu desejo de encontro? Ou, de repente, Penélope simplesmente é apaixonada pelo gesto de tecer? Tecer os seus caminhos, se Doroti em sonho passeia em suas desventuras pelas linhas tecidas por Penélope, um encontro entre elas nos resgataria da espera do amor, da espera do herói, talvez, das musas que habitam nosso hades sazonal:
- Doroti: Olá Penélope, você existe ou é só um sonho? Se o acontecimento for frustrante que seja só um sonho, acaso, você também poderá me dizer o que é a realidade?
- Penélope: Doroti, sua menina esperta, andou lendo Platão e inverteu seu desejo pelo assombro – a realidade - é uma cópia distanciada e por ora aproximativa do que vivemos. Você poderá acordar inúmeras vezes e talvez permaneça com a sensação de que ainda irá acordar. É uma espera o que nos constitui.
- Doroti: Porque uma espera? Porque precisamos ser seres de espera? Eu desejo aventuras, mas, insistem que tudo não passa de um sonho.
- Penélope: OOh Doroti, entendi, você quer brincar de fantasmas. Seria a espera um fantasma? Do que você tem medo? De atingir a intensidade? Será por isso que teço angústias e esboço dígrafos de alegria.

* Carolina Votto, outono de 2016

terça-feira, 12 de abril de 2016